Portugal | Conhecendo Fátima, Batalha e Alcobaça

Eu sabia que os portugueses eram religiosos, mas visitando o país pudemos notar que a religião está bem presente no cotidiano das pessoas. Em todas as igrejas por onde passamos víamos pelo menos uma pessoa fazendo suas preces. Nas cidades menores isso era ainda mais evidente, igrejas menos turísticas tinham mais devotos. Nosso quinto dia em Portugal foi dedicado a conhecer alguns lugares que marcam a religiosidade portuguesa: Fátima, Mosteiro de Batalha e Mosteiro de Alcobaça.

Nosso primeiro destino foi o Santuário de Fátima. Logo que chegamos ao estacionamento percebemos que o lugar recebe muitos e muitos peregrinos, é simplesmente gigante. Como gostamos de acordar cedo e chegar antes da maioria dos turistas nos lugares, quando chegamos a Fátima tudo ainda estava bem tranquilo. O santuário foi construído no local onde Nossa Senhora do Rosário teria aparecido para três pastorinhos, Francisco, Jacinta e Lucia. A primeira aparição foi em maio de 1917 e se seguiu mês a mês, sendo a última em outubro de 1917, quando nossa senhora pediu que construíssem ali uma capela. Desde então muitos fiéis vão até Fátima pedir bençãos e pagar promessas.

A Basílica antiga foi construída entre 1928 e 1953 e ali estão enterrados os corpos de Francisco e Jacinta. Do outro lado da explanada (de 1km de extensão) está a nova Basílica, finalizada em 2007. Ambas são bonitas, mas fogem um pouco do estilo manuelino e barroco (rebuscados) que encontramos na maioria das igrejas de Portugal. Mas a parte principal nem são as basílicas. O que mais atrai os fiéis é a capela, local exato onde teria ocorrido as aparições. Saindo da Basílica nova há uma extensa faixa e mármore que leva até a capela, por onde passam diversos fiéis pagando penitências de joelhos. O fluxo é tão grande que o mármore chega a brilhar, como se tivesse sido polido. Ao lado da capela também há uma pira onde pessoas depositam suas velas em agradecimento as bençãos recebidas. O lugar fica mais lotado nas datas das aparições e se estiver pensando em passar por lá esse ano (2017) saiba que se comemora o centenário das aparições, provavelmente o fluxo de pessoas será ainda maior.

A neblina as vezes ajuda a tirar uma boa foto.
Na Basílica Velha estão os túmulos dos pastorinhos que viram Nossa Senhora.
A esplanada formada entre a Basílica antiga e a nova tem em torno de uma quilômetro e fica cheia de fiéis nos aniversários de aparição de Nossa Senhora.
Nova Basílica de Fátima finalizada em 2007
A peregrinação de joelhos acontece nesse corredor de mármore que hoje está liso de tantas promessas pagas.

Deixamos Fátima rumo ao mosteiro de Batalha. Totalmente oposto as Basílicas que tínhamos acabado de ver o mosteiro , que na verdade se chama Mosteiro de Santa Maria da Vitória, é um dos principais representantes da arquitetura manuelina. Você fica até meio tonto tentando decifrar cada detalhe entalhado na pedra. Ele foi terminado em 1434 e sua construção foi a forma que D. João D’Avis encontrou para agradecer a Virgem Maria depois da vitória na Batalha de Aljubarrota, contra o reino de Castela. Bom, se o exterior já impressiona o interior é de cair o queixo. Aliado ao estilo manuelino (que foi incluído nos séculos 15 e 16) está a arquitetura gótica, ou seja, muita altura. Você vai ter que se curvar para poder ver todos os detalhes. Preste atenção nos fachos de luz coloridas nos corredores, consequência do sol batendo nos vitrais. A Capela do Fundador é lindíssima e lá estão enterrados D. João D’Avis, sua esposa e os 4 filhos. Saindo da igreja você estará no claustro real e se quiser pode brincar de descobrir quantas formas diferentes eles conseguiram inventar para ornamentar janelas, sacadas e portas. É insano!!! Em algum dos corredores você vai se deparar com a Sala do Capítulo. Lá dentro há dois túmulos de Soldados Desconhecidos e representam o esforço do Povo Português. Mas o mais interessante dessa sala está na sua estrutura. São vãos de 19 metros sem nenhuma coluna, tudo construído com abóbadas que formam no teto uma estrela de 8 pontos. Precisamos de construtores desses nos dias de hoje!!

Quando eu já estava achando tudo mais do que incrível chegou a hora de visitar as Capelas Imperfeitas. Não se engane por esse nome, elas são extraordinárias. Deram esse nome porque até hoje elas ficam ao ar livre, sem teto. Mas quem precisa de um teto com tanta exuberância? Infelizmente as fotos não traduzem a beleza, você terão que ir até lá e ver com os próprios olhos. Não consegui captar a totalidade de detalhes que tem em cada vão. Parece que eles quiseram esculpir tudo que podiam e mais um pouco. Pra fechar nossa visita em Batalha rejeitamos os restaurantes caros na frente do mosteiro e achamos um “por quilo” baratinho, com carne assada e tudo mais, e fizemos um piquenique na praça apreciando a paisagem.

O Mosteiro de Batalha é tão cheio de detalhes que fica difícil saber qual a sus frente. Acho que é essa, pelo menos foi por onde entramos.
Interior da igreja de Batalha coloridamente iluminado pelo sol que bate nos vitrais
Pra que tanta beleza no teto? Certamente pra gente ficar com torcicolo olhando para cima na Capela do Fundador
Sala do Capítulo, arquitetura e engenharia nível hard pra conseguir esse vão enorme.
As Capelas ditas imperfeitas não merecem nem de longe esse nome. É uma riqueza de detalhes em cada coluna.
Pra que pratos e mesa se temos uma vista dessa?

Depois do almoço “low cost” partimos para Alcobaça para fechar o dia de Mosteiros. Se você ainda não leu o post sobre Pedro e Inês de Castro sugiro que leia pra entender a importância do Mosteiro nessa história, é só clicar no link ali em cima. Bom, Alcobaça não pode ser comparado com Batalha em termos de arquitetura para encher os olhos e bagunçar as ideias. Vamos dizer que ele é um pouco mais simples, mas sem perder o charme. Apesar de menos pompa o mosteiro fundado em 1153 por D. Afonso Henriques (olha ele aqui) é Patrimônio da Humanidade tombado pela Unesco. Já é um bom motivo pra visitar, não acha?

Ao entrar na igreja você nota a grandeza gótica. 106M de extensão e colunas gigantescas. Perto do altar estão os túmulos de Inês, a esquerda e Pedro, a direita, um de frente pro outro. Para sair para o claustro você passará pela Sala dos Reis, com azulejos que contam a história da abadia e estátuas de quase todos os reis. Nesse claustro você também pode brincar de descobrir quantas formas diferentes eles conseguiram esculpir, mas ficará entretido bem menos tempo que em Batalha.O que mais gostei de alcobaça é que você consegue imaginar a rotina dos 999 monges que viviam aqui pois tem acesso a praticamente todos os lugares. Você pode subir aos dormitórios, ir a sala de refeições e conhecer a cozinha. Essa é um caso a parte. Suas enormes chaminés me fizeram pensar que os monges adoravam uma carne assada. Pelo tamanho das “churrasqueiras” não duvido que assassem bois ou carneiros inteiros ali. Uma curiosidade interessante é que um dos rios que passava pela cidade foi desviado pra que corresse por dentro da cozinha e assim os peixes fossem pescados sem sair do mosteiro. É muita tecnologia para o século 12, né? Quando estávamos saindo de lá encontramos um grupo de crianças fazendo a visita com um professor. Fiquei com uma pequena inveja daquelas criancinhas. Se na minha época de escola eu tivesse visitado lugares como esse talvez tivesse me interessado muito mais pela história.

Fim da visita, seguimos para Nazaré. Mas isso fica pro próximo post.

Leia também:

Mosteiro de Alcobaça, onde jazem Pedro e Inês de Castro
A extensa nave da igreja de Alcobaça
Túmulo de Pedro e ao fundo o de Inês. Foram colocados frente a frente para que vissem um ao outro quando acordassem para o juízo final.
Ficamos impressionados com a cozinha de Alcobaça. Atrás dessa mesa de pedra enorme fica o córrego que trazia peixes frescos pra dentro do mosteiro.
Eu ia gostar de ter aula em lugares como esse
Bru Odppes

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